28 de setembro de 2018

Um incêndio que mudou muitas vidas...

(Texto escrito em Junho de 2017, para as minhas filhas)

Filhas, estamos em Junho de 2017… Está um calor fora do normal, e os incêndios começam…
A natureza está zangada… Não a temos tratado bem de certeza…

A Mãe e o Pai estão a divertir-se num jantar, numa noite quente, com os amigos… Vocês estão em casa da avó, confortáveis e em segurança… E ao mesmo tempo Portugal vive um dos maiores incêndios de sempre… 
Que isto nos sirva de lição para valorizarmos o quão afortunados somos, a sorte que temos tido sempre, a vida que nos calhou e que construímos…

Há relatos e tragédias que nos fazem doer, e nos causam uma angustia inexplicável… Que nos fazem questionar o que somos e como agimos… 
Hoje, depois de uma noite trágica em Pedrógão, a vida continua para uns, para outros não… 
É assim todos os dias, eu sei… Mas quando se vêm famílias inteiras a desaparecer de forma tão drástica, de um momento para o outro, ou, talvez pior ainda, quando vemos desaparecer o bem mais precioso da vida de uns pais que, não consigo imaginar como, terão de continuar cá e levar a vida para a frente, é impossível que o medo não nos invada o coração…

Depois do incêndio de ontem, há pais que não vão poder voltar a abraçar, a ver, a ouvir os seus filhos… É uma dor que magoa só de a imaginar! 

Que sorte temos por vos ter connosco! Que sorte temos nós por existirem dias muito difíceis na nossa feliz vida! Birras constantes, cansaço extremo, noites mal dormidas, pequenas doenças, duvidas e indecisões… Que sorte pelas coisas “más” da nossa vida, que no fundo é tão boa…! Que sorte!

Viver um dia de cada vez, valorizar tudo o que temos e relativizar as coisas menos boas… E ter fé que tudo vai correr bem… mesmo quando não corre…


Princesas, só morre quem é esquecido! E apesar de não se lembrarem deste dia, ou das pessoas que perderam as suas vidas neste trágico dia, tenho a certeza de que ao lerem isto, e ao valorizarem o que têm, estão a manter viva a sua memória!

A todas as famílias que perderam tudo neste maldito incêndio, a quem perdeu amigos, às famílias que se desmoronaram… Um abraço apertado!

26 de setembro de 2018

O Pai que hoje tenho

Pensei muito antes de escrever aqui para ti... Não porque nunca te tenha escrito, mas porque te sinto como das coisas mais privadas que tenho. Depois, lembrei-me do quanto tu gostavas de escrever, do poeta que tinhas dentro de ti, de como gostavas de deixar no papel o que vivias... E foi o mais importante que me deixaste! As tuas folhas rabiscadas, ora com poesia, ora com diários de uma vida às vezes leviana, ora com nomes estranhos da industria farmacêutica... 
É o que tenho teu. É o que era teu, agora é meu, e um dia será das minhas filhas! E acho que é por isso que também gosto de escrever... Porque passar os nossos sentimentos e as nossas memórias para o papel faz com que se tornem eternas.


Recordo-me de ti a declamar poesia, normalmente já depois de uns copos de vinho... 
Os poemas saiam da tua alma, com a mesma intensidade com que o poeta um dia os escreveu num papel.

Recordo-me de ti como um homem bom, muito humano, muito humilde, muito amigo, de uma simplicidade rara, e com um desapego aos bens materiais que só conheci em ti.
Sonhador, libertino, de coração aberto ao mundo, gargalhada fácil, sorriso bondoso.
Tinhas pouco juízo, é verdade. Mas um sentido de justiça gigante.
Viveste a vida sempre à tua maneira, subiste na vida com uma inteligência desigual, caíste tantas e tantas vezes, e ergueste-te outras tantas. 
Foste o melhor amigo que alguém podia ter, aquele que dá o que tem e o que não tem, aquele da "camisa branca" como diz a musica que tanto ouvíamos... Não eras o amigo presente, mas eras o que aparecia sempre que era preciso! Acho que herdei isso de ti.

Tinhas de viver rodeado de paixão. Ou pelo menos de algo que achasses (e sentisses) que era paixão. E, embora me tenhas ensinado que a paixão um dia passa e que o mais importante na vida é o amor (sabias tão bem isso, em teoria), precisavas sempre de te sentir apaixonado! Assim, viveste intensamente todas as tuas paixões, enquanto duraram. E sei que levaste contigo cada uma delas no coração. Algumas ficaram no meu também, até hoje. Outras não, é assim a vida.

Sou filha de Pais separados que, com orgulho, posso dizer que os meus Pais foram sempre os melhores amigos! Até ao fim. E, olhando em volta e vendo o que hoje se passa com tantas famílias, tive uma sorte do caraças! Nem sempre foste presente, mas também nunca te senti ausente, porque houve sempre uma mulher extraordinária que me lembrava que tu, mesmo não estando era como se estivesses, e com uma arte que só se explica pelo facto de ser uma Mãe como há poucas, camuflava a tua ausência. E estava tudo bem.
Foi muitas vezes Pai e Mãe, mas nunca esteve sozinha nisto de criar uma filha. Porque tu, não estando sempre, estavas lá quando era preciso.  

Foste um Pai para muita gente, um professor para outros, e um sogro que fazia questão de pedir ao genro que não seguisse as suas pisadas. E sei que, onde estiveres, estás muito orgulhoso dele, e do homem (e Pai) que se tornou...
Mostraste a muita gente, enquanto cá estavas e quando partiste, que realmente o que interessa nesta vida é vivê-la da forma que mais gostamos, com valores, alegria, bondade, simplicidade, humildade e respeito pelo que nos rodeia.

Um dia ouvi dizer que existem coisas que só alguns sabem, poucos compreendem e ninguém percebe... E acho que é isso que me acontece hoje. Porque, dizer que te sinto mais em mim agora que não estás aqui, não faz muito sentido para os outros... Mas é o que sinto. Sou feliz por me sentir assim, e grata! Grata a ti, à minha Mãe, e a esta capacidade de olhar para trás e só conseguir ver as coisas boas. São apenas essas que agora vivem na minha memória e no meu coração... Talvez por isso só agora te sinta tão por perto... Mais perto do que nunca.

Às vezes olho para o céu com as princesas e elas dizem que desenhaste nas nuvens... Tantas vezes! Sempre que as nuvens têm uma forma diferente, lembram-se que foste tu que as desenhaste para elas poderem apreciar... Elas são especiais Pai! Sei que podes sentir isso aí onde estás, e peço-te que as protejas sempre! 
E quando poderes, escreve-nos um poema nas nuvens! 

Um beijo, daqui até aí... 



"Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
(...)
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia !
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!" - Ary dos Santos

25 de setembro de 2018

Hoje escrevo para ti!

Sou feliz! Sou feliz mesmo quando não estou feliz... Gosto de ver sempre o lado bom, o copo meio cheio, o lado mais luminoso da vida... E muito do que sou, e do que tenho, também a ti o devo! Cresci ao teu lado, tornei-me mulher, constituímos uma família... Juntos!
E que orgulho eu tenho disso! É bom ser a tua mulher, a tua companheira... 

Na realidade, a vida hoje em dia obriga-nos a ter vários papeis no mesmo dia, às vezes ao mesmo tempo... Trabalhar, ser Mãe, mulher, esposa, filha, neta... Gerir a nossa própria vida, a nossa vida familiar, financeira, criar rotinas (e fugir delas às vezes), organizar (e sincronizar) agendas!
É uma correria! E o que de melhor levamos nesta vida é o que está por trás dessa correria... 
As pausas para respirar, para nos olhar-mos, para vermos crescer os nossos filhos, para convivermos! 

Já me disseram que não há amores para a vida toda, mas eu não acredito! 
É difícil sim. Muito! É raro também...! Exige tempo, dedicação, paciência, tolerância, respeito, cedências, amizade, respeito, respeito, respeito... E mais tolerância! E amor! Ai o amor... É o caminho para tudo nesta vida! 
Eu acho que as pessoas hoje têm tanta pressa que não têm tempo para as relações. Não têm tempo (nem paciência) para ouvir outra voz que não a sua, não têm tempo para ter tempo de construir algo sólido, saudável, e que as torne pessoas felizes... 
Que sorte tenho eu, por te ter! 

Todos sabemos que o caminho se faz caminhando, mas o difícil é ultrapassar as pedras que nos vão aparecendo, e nisso temos sido uns profissionais! Com os anos aprendemos a dançar na vida ao mesmo ritmo, a saber respeitar o espaço um do outro, a surpreender quando é preciso, a andar ao sabor do vento mas sempre na mesma direção.

Mesmo quando é difícil, mesmo quando a vida teima em nos dificultar o caminho, sabemos que, no fim de contas, o mais importante é estarmos juntos!   

És um ser humano fantástico, e todos os dias agradeço por te ter na minha vida! Por ti (e contigo) vou até ao fim do mundo, e tenho a certeza de que seremos sempre felizes! Mesmo quando não estamos felizes, SOMOS felizes! 

"Amo-te, mil anos por cada rosa"

21 de setembro de 2018

Dar-lhes a liberdade de voar...

Sou de viver! Viver a sério! 
Sou mais de sim do que de não, e pouco do logo se vê! Nada de nunca e muito de sempre...
Sou de ir em vez de ficar, de sonhar e de acreditar. Se a pergunta é "vamos?" a resposta é "ainda aqui estamos?" 

Outubro 2017

A verdade é que, com o passar dos anos, a vida ensina-nos que há momentos que não se repetem e oportunidades que não voltam. 

Educar é a tarefa mais difícil de todas! E dá muito mais trabalho do que criar um filho... Educar é amar, ensinar, acompanhar, observar, corrigir, deixar errar, impor regras e limites com amor e firmeza, ensinar a lidar com os "nãos" da vida, conversar, compreender, repreender, responsabilizar, passar valores e criar raízes a alguém que, é tão nosso, mas não nos pertence... 

O coração de uma Mãe vai ficando mais apertado a cada voo... 
À medida que vão crescendo, é preciso deixar voar os filhos, com a mesma confiança com que lhes criamos raízes...  E ficamos a observar os seus voos, que sendo cada vez maiores, os levarão onde eles quiserem ir!

Quero muito que sejam assim! Livres! Sempre sabendo onde começa e onde acaba essa liberdade... Porque só essa liberdade, a que respeita a vida (nossa e dos outros) é que é boa de se viver...! 
Que não tenham medo de cair, de arriscar, de mudar! Que tenham loucura na mesma medida que têm serenidade! 

Eu vou estar aqui sempre, a aplaudir as vossas conquistas, apoiar os vossos medos, e quando for preciso a ajudar-vos a levantar! Serei sempre a vossa casa...

Voem meninas... alto! Muito alto! Sem medos!

18 de setembro de 2018

Que venha o novo ano letivo!

Ontem foi dia de recomeços...

Depois de umas longas férias, com imensas atividades, amigos novos, festas e menos rotinas, e já com muitas saudades da vossa escola, lá foram as duas! De mãos dadas como sempre!

Desde o infantário, até ao Jardim de infância, as pessoas que entram e saem das vossas vidas têm sido muitas! E as importantes, as que vos marcam a alma, ficam SEMPRE no vosso coração...!

Este ano, mais uma vez vão mudar de educadora, mas, sinto-vos mais crescidas e preparadas para estas mudanças!
A S. está sempre bem, desde que não a contrariem muito e que a deixem brincar... Já a D. custa sempre mais um bocadinho, pois gosta na mesma medida que lhe custa a separação! 
Gosta mesmo de gostar de pessoas, e de as ter presente na vida dela! Portanto, não gosta de mudanças, de separações! No entanto, apesar dessa dificuldade, acho-a mais preparada este ano...

A escola mantém-se, e a maioria das suas monitoras que tanto adora também, o que ajuda no processo, mas mesmo assim custou um bocadinho! Para ela é como que estar a voltar à rotina, mas a faltar uma peça essencial... 

Filhas, vocês são as duas tão diferentes, e nessa diferença está o que mais gosto! 
Na vida é importante ser um bocadinho desligada como tu S., mas também é muito importante cuidar e manter as pessoas no coração, e na memória, como tão intensamente fazes D.!

Que juntas consigam sempre manter este equilíbrio que caracteriza a vossa relação, e que se completem neste caminho que, por enquanto vão fazendo de mãos dadas... Haverá maneira melhor que esta? Claro que não! 




"És eternamente responsável por aquilo que cativas..."